sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Prefeito teria comprado 60% dos eleitores de sua cidade

Justiça poderá determinar realização de novas eleições

Odilon Rios

MACEIÓ. A juíza Isabelle Coutinho, da cidade de Campo Grande, a 154 quilômetros da capital, determinou o afastamento do cargo do prefeito, Arnaldo Higino Lessa (PTB), e de seu vice. Ele é acusado de comprar 60% dos votos da cidade, que tem 5.000 eleitores, nas eleições de 2008. Arnaldo Higino disse que vai recorrer da decisão ao Tribunal Regional Eleitoral.

A juíza seguiu recomendação do Ministério Público Estadual, que também pediu a realização de novas eleições em Campo Grande. A data não está marcada. Até o final da tarde de ontem, o prefeito e o vice ainda estavam nos cargos.

- A diferença nesta eleição, para o segundo colocado, foi de 912 votos. É muito suspeito - disse a promotora Martha Bueno.

Ela encaminhou documentos ao Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc) do MP, para que se faça uma varredura em todas as contas públicas da cidade. Durante as investigações, ela ameaçou prender o gerente do Banco do Brasil da cidade porque ele se recusava a apresentar cheques sem fundo com a assinatura do prefeito.

- Não há provas de abuso de poder econômico. O que existe é um sujeito aposentado, esquizofrênico, que disse ter recebido mil reais por um voto. Seria o voto mais caro do mundo. Temos confiança de que o prefeito continua no cargo até o final do mandato. Há vícios processuais. Vamos reverter isso no TRE - disse o advogado do prefeito, Fábio Ferrário.

Primeira dama é acusada

de ser "laranja"

Além de compra de votos, Arnaldo Higino é acusado de uso da máquina pública. Ele tem movimentação financeira incompatível com sua prestação de contas, foi acusado de apresentar histórico escolar falso para se eleger e responde a uma ação, no MP, de desvio de água de três povoados para abastecer, por três dias, um parque de vaquejada pertencente a ele.

A primeira dama e um professor da cidade são acusados de serem os "laranjas" do prefeito. O professor recebia R$800 por mês, mas em sua conta bancária havia R$90 mil. A primeira dama tinha salário de R$5 mil e, em três meses, em sua conta no banco havia R$190 mil.

Os dois faziam acordos com mercadinhos na região para distribuírem mensalmente cestas básicas, pagas pela prefeitura. Uma das contas atestava que o prefeito havia gasto R$10 mil só em um estabelecimento comercial. Casas de construção também eram contratadas para distribuir telhas e cimento.

Na sentença da juíza, o prefeito é acusado de ter, em sua conta bancária, três meses antes da eleição, meio milhão de reais, que teriam sido usados para a compra de votos. Seu sigilo fiscal e bancário foi quebrado a pedido do MP. Na declaração de Imposto de Renda, em 2008, Arnaldo Higino declarou ter R$63 mil. De janeiro a junho deste ano, ele tinha R$900 mil na conta, segundo o MP, verba desviada das contas da Prefeitura.

Campo Grande é uma das cidades mais pobres de Alagoas. Com duas ruas e pouco mais de 9.000 habitantes, 54,88% da população estão abaixo da linha de pobreza, segundo dados do IBGE. Um total de 2.423 pessoas têm menos de um ano de estudo e a maioria tem renda inferior a um salário mínimo.


Fonte: O Globo

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