domingo, 25 de abril de 2010

ELEIÇÕES 2010: Dados do TSE mostram que número dos que tiraram o título diminuiu em 45% em quatro anos

Programas sociais levam jovens às urnas, mas apatia ainda domina

Aos 16, estudantes se dividem entre o medo de perder benefícios e o desinteresse pelo direito ao voto

DIANTE DO receio das mães de perderem acesso aos programas sociais, Gilmar, Wagner e Michel resolveram tirar o título de eleitor: estreia nas urnas

Carolina Benevides
e Maiá Menezes

A apatia dos jovens debutantes no direito ao voto, alvo constante de campanhas de mobilização, ganha, no fim da era Lula, novos contornos. Apesar do desinteresse pelo pleito, como indicam dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), parcela dos novos eleitores que completaram 16 anos em 2010 começa a demonstrar crença no discurso do presidente de que Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Planalto, é a única certeza da continuidade de programas como Bolsa Família, ProUni e Minha Casa, Minha Vida.

Morador da Posse, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Gilmar de Souza, que completou 16 anos em agosto do ano passado, estava decidido a não votar antes dos 18. Mudou de ideia depois de a mãe, Edna da Silva, contar que a família, composta por mais duas irmãs, recebe há cinco anos o Bolsa Família.

- Vi a propaganda na TV dizendo que aos 16 é possível votar e comentei com a minha mãe que não ia tirar o título. Conversamos e ela explicou que estava com medo de o governo mudar. Disse que recebemos o Bolsa Família, que quer se inscrever no Minha Casa, Minha Vida e que o meu voto era importante. Resolvi ajudar. Tirei o título, vou votar e já conversei com meus amigos sobre as eleições - conta Gilmar.

"É uma distorção da democracia"

Segundo a pesquisadora Rosana Nazzari, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UniOeste), a faixa de renda do eleitorado modifica a maneira como ele vota:

- Os mais pobres se envolvem com a comunidade, e são diferentes dos filhos da classe média que estão preocupados em ter sucesso no mercado de trabalho. Quando Lula diz que a candidata dele vai manter conquistas como o Bolsa Família, os jovens que vivem em famílias beneficiadas podem ter vontade de tirar o título para tentar assegurar as conquistas - diz Rosana, que há duas décadas pesquisa a juventude brasileira.

- Do ponto de vista do cidadão, não podemos dizer que é irracional votar baseado no que ele conquistou no seu a dia a dia, mas é uma distorção da democracia o jovem pensar em votar por causa dos benefícios. Eles não estão comparando programas de governo, por exemplo, que é o que todos deveriam fazer - avalia o cientista político Emil Sobottka, professor da PUC do Rio Grande do Sul.

A disposição de Gilmar de Souza contrasta com o desinteresse de Felipe Silveira, 16 anos, aluno do 2º ano do ensino médio numa escola particular do Rio:

- Só vejo falar mal dos políticos. Vejo jovens da minha idade desestimulados. Ainda que fosse tirar o título, votaria em branco. Ninguém que conheço da minha idade tirou o título, a não ser por ordem dos pais.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, de 2006 para cá, o número de jovens de 16 anos que tiraram o título diminuiu cerca de 45%. Este ano, mais de 2,2 milhões de jovens de 16 e 17 anos estão aptos a votar (32,3% da população nessa faixa etária).

Na avaliação do presidente da UNE, Augusto Chagas, a continuação das políticas sociais voltadas para os jovens está em pauta nestas eleições:

- A discussão é em torno da criação de empregos para esses jovens. A preocupação com esse eleitorado vem pautando os candidatos. É só ver a dedicação deles à internet.

Fonte: O Globo

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